terça-feira, 22 de abril de 2014

BRINCADEIRA DO SÉRIO

Ainda preso, em corpo e pensamento, sobre universos infantis.
No meio de trabalho em que o Felipe se insere, já me cansei um pouco de escutar a palavra lúdico.
Assim como muitas coisas no mundo de vocês, é um termo que, sem dúvida, é válido mas, com uma certa pretensão adquirida (coisa que já percebi muito em campos universitários ou, ao menos, naquele em que o Felipe estudou e me criou), pode vir a ser uma colocação gratuita ou, até mesmo, sem coerência.
Bom, assumindo um risco, afirmo: Me sentindo lúdico estes dias.
Visitei um aniversário em um buffet infantil.
Difícil me enquadrar e tentar parecer "normal" por ali.
Aparentemente, ao mesmo tempo em que tudo o que eu queria fazer era participar das coisas saudáveis, parecia que as chatas e socialmente reverentes eram as únicas em que eu poderia, deveria, atuar.
Atuar sim, pois duvido que aquela performance toda, mesmo não ensaiada, tenha sido realizada com extrema naturalidade e boa vontade por todos.
Eu queria ir nos brinquedos.
Eu queria o algodão doce cor-de-rosa e perguntar se o moço não poderia me fazer um preto (idéias...).
Queria saber o que é aquele fliperama em que todos os garotos passam horas apertando botões sem se cansar nem sair do lugar.
Ir na piscina de bolas (qualquer um ao ver algo assim pela primeira vez tem que ter o assassinato de sua curiosidade de experimentar, creio).
E, então, como já percebi em muitas situações e diálogos por aqui, depois de uma grande carga positiva, quase sempre encaixam um porém no meio e rumo à conclusão dos momentos.
Tive que me conter com as comidinhas minúsculas com nomes e ingredientes que desconheço, bebidas com gostos estranhos e, pelo que notei, um tanto alucinógenas.
Micro chocolates em forma de bichinhos.
Conversas desinteressantes nas quais, não sei bem como, todos mantinham seus sorrisos.
Performam e não sabem... Já disse.
Volto para minha residência e tenho saudades imediatas, recheadas de curiosidades fantasmagóricas.
Estranho sentir falta daquilo que não se experimenta.
Mas outros fizeram isso por mim e eu assisti.
Senti a situação através do corpo do outro.
Performaram e eu fui espectador.
Fiquei do outro lado... E gostei.
Aprendi, observando, como se brinca do sério.
Dois se encaram e o primeiro a rir, perde.
Qual a graça no rosto dos outros?
Vejo tanto mistério, galáxias a se descobrir.
Observaria um por horas a fio, assim como o Abramo, meu caro ursinho e colega, me observa diariamente.
Você nos observaria?
Nos penetraria e nos deixaria lhe penetrar?
Vai saber.
Surpresas podem acontecer.
Entre ficar sério e rir, talvez possamos descobrir outros sentimentos possíveis.
Brincadeira do sério.
BRINCADEIRA DO SÉRIO

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