domingo, 12 de abril de 2015

PALHAÇO POR IMPOSIÇÃO.

Ontem o Felipe me convidou para trabalhar na SP-ARTE e me interromperam. O Felipe escreveu uma carta (coisa que não consigo fazer muito bem):
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PALHAÇO POR IMPOSIÇÃO.

Ontem, 11/04/2015, iria apresentar meu trabalho no setor PERFORMA da SP-ARTE. Digo iria, pois, apesar de ter me apresentado com o mesmo comprometimento inteiro e direto que tenho com performances, não tive a oportunidade de o realizar plenamente. Em performance, sempre estaremos em uma eterna discussão sobre suas barreiras e acordos quando esta se coloca de frente com as situações institucionais em que sem encontra. Em meu percurso já adentrei em diversas situações tendo a flexibilidade de encontrar sempre uma adaptação possível à natureza do momento presente, condição esta que, inclusive, acredito ser uma das ferramentas e fundamentos da performance. Para isto, sempre deve-se seguir um simples padrão que, para mim, ultrapassa os burocráticos e toca no humano e sensível: há de haver comunicação e acordos. Isto me escapou ontem.
O trabalho foi divulgado com apresentação das 20hs às 21hs. Com uma maquiagem de palhaço me sentei em uma bicicleta ergométrica e pedalei na busca de perder máscaras em um período dado de uma hora. Pronto, simples: Situação de trabalho estabelecida nas intenções de ações e horários institucionais. Um pouco depois das 20:30 apagam a luz do espaço da performance e resto pedalando no escuro enquanto o público é escoltado para fora da feira. Mesmo percebendo a ofensa mal articulada do evento, permaneço pedalando em comprometimento com o trabalho que fui convidado a fazer e, ainda assim, um segurança me impõe interromper a performance. A interrompo e não há a menor conclusão artística, ética ou profissional na situação. Ao me retirar para me recompor e ir embora carregando desrespeito para casa, sou informado de que tenho que esperar que todos os presentes na feira se retirem para que eu tenha luz no espaço em que me foi dado para guardar meus pertences, trocar de roupa, etc. Neste momento perdi a natureza do que eu era ali para eles quando não me vi mais respeitado nem como artista e, mais importante, muito menos como uma pessoa. Largado no escuro, com a ajuda da luz de lanterna do celular de um único assistente que resolveu permanecer e me ajudar (o único que se dispôs a permanecer no escuro comigo), guardei minhas coisas e semi-borrado, fui embora, carregando uma performance ainda maior e não planejada que poucos viram: De fato fizeram de mim um grande palhaço incompleto e assim acabei sendo imposto a sair e deixar o evento. Hoje escrevo com olheiras de uma maquiagem que não consegui retirar nas condições em que me apresentaram.  Não me permitiram deixar de ser palhaço.


Felipe Bittencourt.

2 comentários:

  1. Lembro da música Geni. A gente salva a cidade e tacam bosta na gente. E mesmo dilacerado por dentro, a gente olha pra esse povo, os verdadeiros palhaços, na pior acepção da palavra, os vê com compaixão e, cumpridores do nosso ofício, vamos em frente. Grande abraço, irmão.

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