Ontem o Felipe me convidou para trabalhar na SP-ARTE e me interromperam. O Felipe escreveu uma carta (coisa que não consigo fazer muito bem):
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
PALHAÇO POR IMPOSIÇÃO.
Ontem, 11/04/2015, iria apresentar
meu trabalho no setor PERFORMA da SP-ARTE. Digo iria, pois, apesar de ter me
apresentado com o mesmo comprometimento inteiro e direto que tenho com
performances, não tive a oportunidade de o realizar plenamente. Em performance,
sempre estaremos em uma eterna discussão sobre suas barreiras e acordos quando
esta se coloca de frente com as situações institucionais em que sem encontra.
Em meu percurso já adentrei em diversas situações tendo a flexibilidade de
encontrar sempre uma adaptação possível à natureza do momento presente,
condição esta que, inclusive, acredito ser uma das ferramentas e fundamentos da
performance. Para isto, sempre deve-se seguir um simples padrão que, para mim,
ultrapassa os burocráticos e toca no humano e sensível: há de haver comunicação
e acordos. Isto me escapou ontem.
O trabalho foi divulgado com apresentação das 20hs às 21hs. Com uma maquiagem de palhaço me sentei em uma bicicleta
ergométrica e pedalei na busca de perder máscaras em um período dado de uma
hora. Pronto, simples: Situação de trabalho estabelecida nas intenções de ações
e horários institucionais. Um pouco depois das 20:30 apagam a luz do espaço da
performance e resto pedalando no escuro enquanto o público é escoltado para
fora da feira. Mesmo percebendo a ofensa mal articulada do evento, permaneço
pedalando em comprometimento com o trabalho que fui convidado a fazer e, ainda
assim, um segurança me impõe interromper a performance. A interrompo e não há a
menor conclusão artística, ética ou profissional na situação. Ao me retirar
para me recompor e ir embora carregando desrespeito para casa, sou informado de
que tenho que esperar que todos os presentes na feira se retirem para que eu
tenha luz no espaço em que me foi dado para guardar meus pertences, trocar de
roupa, etc. Neste momento perdi a natureza do que eu era ali para eles quando
não me vi mais respeitado nem como artista e, mais importante, muito menos como
uma pessoa. Largado no escuro, com a ajuda da luz de lanterna do celular de um
único assistente que resolveu permanecer e me ajudar (o único que se dispôs a
permanecer no escuro comigo), guardei minhas coisas e semi-borrado, fui embora,
carregando uma performance ainda maior e não planejada que poucos viram: De
fato fizeram de mim um grande palhaço incompleto e assim acabei sendo imposto a
sair e deixar o evento. Hoje escrevo com olheiras de uma maquiagem que não
consegui retirar nas condições em que me apresentaram. Não me permitiram deixar de ser palhaço.
Felipe Bittencourt.
Lembro da música Geni. A gente salva a cidade e tacam bosta na gente. E mesmo dilacerado por dentro, a gente olha pra esse povo, os verdadeiros palhaços, na pior acepção da palavra, os vê com compaixão e, cumpridores do nosso ofício, vamos em frente. Grande abraço, irmão.
ResponderExcluirmetáfora completa!
ResponderExcluir