segunda-feira, 20 de abril de 2015

PAIXÃO

Continuo me preparando e aprendendo, cada vez mais, a ser paciente...
Ultimamente não tenho tido tempo nem de pesquisar direito o significado dessa palavra que por tanto tempo, sem conhecimento, não utilizei e dei valor. O Felipe tem suado para não me dar descanso este mês e o mínimo que posso fazer é o mesmo que sempre fiz: suar o triplo. Se ele fica feliz eu fico. Funcionamos bem assim.
Pegando as rédeas por ele sempre, continuo o acompanhando.
Penso que fica mais recorrente falar dele, mais fácil talvez, porque o observar é a única coisa que eu faço quando não estou trabalhando.
Ando me sentindo mais inteiro, íntegro, seguro. Não estou carregando nenhum hematoma ou dores por ele ultimamente(sozinho eu continuo não sentindo muito dessas coisas físicas). Parece que o Felipe anda entendendo melhor o que sente e eu sei, eu sei muito bem, que o Felipe alcançou uns objetivos bem bons por aí e mais uma coisa que eu acho que jamais saberei o que é: O Felipe anda apaixonado.
Eu sei disso pois é geralmente um período em que ele me faz trabalhar muito e, geralmente, me exige muitas ações de completa auto agressividade. Então ando meio confuso com tantas coisas fofas que tenho realizado. Talvez ele esteja lidando de forma melhor, mais suave e com mais amor nas suas resoluções. Assim que me sinto neste último mês quando trabalho.
Irei apresentar minha primeira ação, quando o Felipe me colocou no mundo há dez anos atrás, nesta semana. Fico lá sentado bebendo o que parece ser sangue mas, na verdade, é groselha pura. Não sinto o gosto das coisas mas já houvi sobre ser doce, melada, rosa... Uma agressividade mais suave.
Sinto trabalhos assim nestes tempos.
O sinto assim comigo.
Me sinto assim por ele.
Talvez eu tenha me apaixonado também.


domingo, 12 de abril de 2015

PALHAÇO POR IMPOSIÇÃO.

Ontem o Felipe me convidou para trabalhar na SP-ARTE e me interromperam. O Felipe escreveu uma carta (coisa que não consigo fazer muito bem):
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PALHAÇO POR IMPOSIÇÃO.

Ontem, 11/04/2015, iria apresentar meu trabalho no setor PERFORMA da SP-ARTE. Digo iria, pois, apesar de ter me apresentado com o mesmo comprometimento inteiro e direto que tenho com performances, não tive a oportunidade de o realizar plenamente. Em performance, sempre estaremos em uma eterna discussão sobre suas barreiras e acordos quando esta se coloca de frente com as situações institucionais em que sem encontra. Em meu percurso já adentrei em diversas situações tendo a flexibilidade de encontrar sempre uma adaptação possível à natureza do momento presente, condição esta que, inclusive, acredito ser uma das ferramentas e fundamentos da performance. Para isto, sempre deve-se seguir um simples padrão que, para mim, ultrapassa os burocráticos e toca no humano e sensível: há de haver comunicação e acordos. Isto me escapou ontem.
O trabalho foi divulgado com apresentação das 20hs às 21hs. Com uma maquiagem de palhaço me sentei em uma bicicleta ergométrica e pedalei na busca de perder máscaras em um período dado de uma hora. Pronto, simples: Situação de trabalho estabelecida nas intenções de ações e horários institucionais. Um pouco depois das 20:30 apagam a luz do espaço da performance e resto pedalando no escuro enquanto o público é escoltado para fora da feira. Mesmo percebendo a ofensa mal articulada do evento, permaneço pedalando em comprometimento com o trabalho que fui convidado a fazer e, ainda assim, um segurança me impõe interromper a performance. A interrompo e não há a menor conclusão artística, ética ou profissional na situação. Ao me retirar para me recompor e ir embora carregando desrespeito para casa, sou informado de que tenho que esperar que todos os presentes na feira se retirem para que eu tenha luz no espaço em que me foi dado para guardar meus pertences, trocar de roupa, etc. Neste momento perdi a natureza do que eu era ali para eles quando não me vi mais respeitado nem como artista e, mais importante, muito menos como uma pessoa. Largado no escuro, com a ajuda da luz de lanterna do celular de um único assistente que resolveu permanecer e me ajudar (o único que se dispôs a permanecer no escuro comigo), guardei minhas coisas e semi-borrado, fui embora, carregando uma performance ainda maior e não planejada que poucos viram: De fato fizeram de mim um grande palhaço incompleto e assim acabei sendo imposto a sair e deixar o evento. Hoje escrevo com olheiras de uma maquiagem que não consegui retirar nas condições em que me apresentaram.  Não me permitiram deixar de ser palhaço.


Felipe Bittencourt.