Um amigo meu uma vez me contou sobre uma cidade onde todos
os moradores eram inquietos com relação a tudo. Eu os entendi como cismados. Um
cortou o pênis, outro resolveu levar um tiro no próprio braço, outro se jogou
da janela... Teve, também, um casal que não decidia entre se divorciar ou criar
um ritual espetacular e nem queira saber quantos inserem ou retiram coisas e/ou
pessoas de todos os seus orifícios corporais. Alguns – a grande maioria –
afirmaram estes comportamentos como profissão e encararam uma vida humilde,
motivados por suas neuroses (cismados...). Não posso me esquecer de uma velha
que gosta de fazer cirurgias plásticas para ficar mais estranha ainda nem de um
pintor que gosta de brincar com catchup, sexo, coisas nojentas e bonecos de
Pinóquio. Outro habitante esculpiu sua cabeça com seu próprio sangue e há uma
donzela que prefere suas pérolas costuradas em sua pele. Existem milhares que
adoram se pendurar por ganchos e ficar balançando em paz, meninos que são
meninas que são meninos que são meninas, há um bem famoso que acha que é Jesus
Cristo e adora um fusquinha, vários que não comem, bebem, falam, enfim, se
privam muito atrás de promover liberdades. Esta cidade é famosa carrega grandes
contradições. O amigo que me contou esta história, o Ítalo, já escreveu sobre
várias outras cidades estranhas e esta ele me disse que preferiu manter em
particular e para poucos. A cidade é generosa por lhe fornecer total liberdade
expressiva com duas condições, porém, que acabam delimitando certas entradas e saídas:
É necessário registrar tudo e ser profissional, na melhor forma que você
conceber estes termos.
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