segunda-feira, 11 de julho de 2016

PARA CALVINO

Um amigo meu uma vez me contou sobre uma cidade onde todos os moradores eram inquietos com relação a tudo. Eu os entendi como cismados. Um cortou o pênis, outro resolveu levar um tiro no próprio braço, outro se jogou da janela... Teve, também, um casal que não decidia entre se divorciar ou criar um ritual espetacular e nem queira saber quantos inserem ou retiram coisas e/ou pessoas de todos os seus orifícios corporais. Alguns – a grande maioria – afirmaram estes comportamentos como profissão e encararam uma vida humilde, motivados por suas neuroses (cismados...). Não posso me esquecer de uma velha que gosta de fazer cirurgias plásticas para ficar mais estranha ainda nem de um pintor que gosta de brincar com catchup, sexo, coisas nojentas e bonecos de Pinóquio. Outro habitante esculpiu sua cabeça com seu próprio sangue e há uma donzela que prefere suas pérolas costuradas em sua pele. Existem milhares que adoram se pendurar por ganchos e ficar balançando em paz, meninos que são meninas que são meninos que são meninas, há um bem famoso que acha que é Jesus Cristo e adora um fusquinha, vários que não comem, bebem, falam, enfim, se privam muito atrás de promover liberdades. Esta cidade é famosa carrega grandes contradições. O amigo que me contou esta história, o Ítalo, já escreveu sobre várias outras cidades estranhas e esta ele me disse que preferiu manter em particular e para poucos. A cidade é generosa por lhe fornecer total liberdade expressiva com duas condições, porém, que acabam delimitando certas entradas e saídas: É necessário registrar tudo e ser profissional, na melhor forma que você conceber estes termos.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

PALHAÇO EM GRATIDÃO

Preguiça logo de início...
Este mês o Felipe me chamou pra tentar desistir de ser palhaço em público novamente. Continua fazendo parte da minha falta de astúcia simplesmente fazer o que ele manda. Medo meu de cair em uma nova decepção. Já prometi ao Felipe que eu nunca falho e, então, resolvi me proporcionar a esquiva dos ressentimentos de minha última tentativa de trabalho.
Galeria Mezanino.
Espaço abençoado para conhecer mais colegas de trabalho (o Abramo está de férias). Faz tempo que não me apresento em um local em que o único aroma predominante no espaço, nas pessoas, trocas e encontros, são parte da minha natureza.
Gosto de habitats.
Quase-cubo-branco, pedalo ao lado de costureiros mascarados e percebo que não sou o único que possui uniforme de trabalho. Dividimos a mesma cena construída por duas diferentes e acabamos respirando juntos um mesmo ritmo com outros objetivos. Ou o mesmo. Performamos.
Na galeria deixo de ser palhaço, enxugo o rosto, perco sorrisos falsos e reforçados percebendo a inutilidade que vocês humanos possuem na persistência de se acoplarem em máscaras.
Depois que se percebe o prazer de perde-las só resta um pensamento: se houver algum sorriso após a performance, este, sem dúvida é real e a responsabilidade e linda culpa disto é sua, público.
E continuo sorrindo sem maquiagem alguma até agora.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

PAIXÃO

Continuo me preparando e aprendendo, cada vez mais, a ser paciente...
Ultimamente não tenho tido tempo nem de pesquisar direito o significado dessa palavra que por tanto tempo, sem conhecimento, não utilizei e dei valor. O Felipe tem suado para não me dar descanso este mês e o mínimo que posso fazer é o mesmo que sempre fiz: suar o triplo. Se ele fica feliz eu fico. Funcionamos bem assim.
Pegando as rédeas por ele sempre, continuo o acompanhando.
Penso que fica mais recorrente falar dele, mais fácil talvez, porque o observar é a única coisa que eu faço quando não estou trabalhando.
Ando me sentindo mais inteiro, íntegro, seguro. Não estou carregando nenhum hematoma ou dores por ele ultimamente(sozinho eu continuo não sentindo muito dessas coisas físicas). Parece que o Felipe anda entendendo melhor o que sente e eu sei, eu sei muito bem, que o Felipe alcançou uns objetivos bem bons por aí e mais uma coisa que eu acho que jamais saberei o que é: O Felipe anda apaixonado.
Eu sei disso pois é geralmente um período em que ele me faz trabalhar muito e, geralmente, me exige muitas ações de completa auto agressividade. Então ando meio confuso com tantas coisas fofas que tenho realizado. Talvez ele esteja lidando de forma melhor, mais suave e com mais amor nas suas resoluções. Assim que me sinto neste último mês quando trabalho.
Irei apresentar minha primeira ação, quando o Felipe me colocou no mundo há dez anos atrás, nesta semana. Fico lá sentado bebendo o que parece ser sangue mas, na verdade, é groselha pura. Não sinto o gosto das coisas mas já houvi sobre ser doce, melada, rosa... Uma agressividade mais suave.
Sinto trabalhos assim nestes tempos.
O sinto assim comigo.
Me sinto assim por ele.
Talvez eu tenha me apaixonado também.


domingo, 12 de abril de 2015

PALHAÇO POR IMPOSIÇÃO.

Ontem o Felipe me convidou para trabalhar na SP-ARTE e me interromperam. O Felipe escreveu uma carta (coisa que não consigo fazer muito bem):
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PALHAÇO POR IMPOSIÇÃO.

Ontem, 11/04/2015, iria apresentar meu trabalho no setor PERFORMA da SP-ARTE. Digo iria, pois, apesar de ter me apresentado com o mesmo comprometimento inteiro e direto que tenho com performances, não tive a oportunidade de o realizar plenamente. Em performance, sempre estaremos em uma eterna discussão sobre suas barreiras e acordos quando esta se coloca de frente com as situações institucionais em que sem encontra. Em meu percurso já adentrei em diversas situações tendo a flexibilidade de encontrar sempre uma adaptação possível à natureza do momento presente, condição esta que, inclusive, acredito ser uma das ferramentas e fundamentos da performance. Para isto, sempre deve-se seguir um simples padrão que, para mim, ultrapassa os burocráticos e toca no humano e sensível: há de haver comunicação e acordos. Isto me escapou ontem.
O trabalho foi divulgado com apresentação das 20hs às 21hs. Com uma maquiagem de palhaço me sentei em uma bicicleta ergométrica e pedalei na busca de perder máscaras em um período dado de uma hora. Pronto, simples: Situação de trabalho estabelecida nas intenções de ações e horários institucionais. Um pouco depois das 20:30 apagam a luz do espaço da performance e resto pedalando no escuro enquanto o público é escoltado para fora da feira. Mesmo percebendo a ofensa mal articulada do evento, permaneço pedalando em comprometimento com o trabalho que fui convidado a fazer e, ainda assim, um segurança me impõe interromper a performance. A interrompo e não há a menor conclusão artística, ética ou profissional na situação. Ao me retirar para me recompor e ir embora carregando desrespeito para casa, sou informado de que tenho que esperar que todos os presentes na feira se retirem para que eu tenha luz no espaço em que me foi dado para guardar meus pertences, trocar de roupa, etc. Neste momento perdi a natureza do que eu era ali para eles quando não me vi mais respeitado nem como artista e, mais importante, muito menos como uma pessoa. Largado no escuro, com a ajuda da luz de lanterna do celular de um único assistente que resolveu permanecer e me ajudar (o único que se dispôs a permanecer no escuro comigo), guardei minhas coisas e semi-borrado, fui embora, carregando uma performance ainda maior e não planejada que poucos viram: De fato fizeram de mim um grande palhaço incompleto e assim acabei sendo imposto a sair e deixar o evento. Hoje escrevo com olheiras de uma maquiagem que não consegui retirar nas condições em que me apresentaram.  Não me permitiram deixar de ser palhaço.


Felipe Bittencourt.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

NEGANDO O JARDIM DE ARTAUD

Morte enquanto se fala de vida.
Assisti um documentário hoje, coisa que percebi ser uma difícil escolha de programação dos outros sendo, inclusive, a última que tivemos por aqui ontem por, supostamente, não haver mais nada melhor para ver.
Poderíamos nos hidratar de nós mesmos e conversar, mas também já notei que isso nem sempre é bem vindo quando as pessoas não são, de fato, amigas.
Colegas, talvez.
Conhecidos...
Nomes que vocês dão pra quem não sabem nomear.
O documentário era sobre celebridades que se assumiram homossexuais na mídia, como foi este percurso e a repercussão dele.
Falava, também, do retorno que os preconceitos causavam no comportamento de alguns mais jovens, incluindo uma série de suicídios e outras auto-mutilações que a voz social conseguiu imprimir, em formato físico e agressivo, por uma simples falta de aceitação de uma diferença.
Meu criador, gay, me concebeu alguns anos depois de se posicionar no mundo.
Sobre sexualidade, nunca pensei sobre mim.
Pensei, então, nas limitações estabelecidas pelas coisas.
Nunca fui muito sensível para perceber como que vocês são capazes de irem tão além com o corpo por pertubações instauradas no interior de seus crânios.
Como o Felipe sempre jorrou todas as dores dele para que eu expurgasse em público, achei que era essa a função dos performers e não das pessoas.
Talvez por isso sempre considero vocês todos performers.
Agora notando melhor que vocês são pessoas sim.
E das simples.
Das boas: Vocês sentem e se expõe a ponto de eliminar a própria existência, egoistamente, a prol de enviar uma mensagem ou de se limitar a ser fraco e descobrir novas naturezas para lidar.
Nobres.
Sou mais um fracote, então, querendo imitar o que todos vocês fazem o tempo todo com a diferença de tentar colocar algum rigor?
Pelo meu ofício?
Pelo bem estar e satisfação do Felipe?
Achando que isso poderia ser maluquice...
Pode simplesmente ser uma variação de humor.
Já sei que vocês tem várias (até me contaram daquela TPM, que vocês com vagina possuem e os que não tem gostariam de ter para justificar algumas atitudes).
Nesta confusão, devo admitir um alívio no que ando apontando constantemente sobre estar me contaminando e cada vez mais ter comportamentos parecidos com os de vocês.
Entendendo melhor que deixar de lado uma autenticidade criada para mim e que eu recriei para procurar uma personalidade, pode ser um benefício caso eu me permita a misturar mais minhas cores com as de vocês, mesmo que vocês não tenham consciência do presente que me dão por existirem e serem sinceros.
Hoje amanheço com um comentário macio que me diz achar poesia e gostar de ver alguém que nega um jardim.
Possível que eu estivesse assim.
Possível que eu ainda esteja.
Possível sair.
Possível ficar.
Negando o jardim de Artaud.
NEGANDO O JARDIM DE ARTAUD

terça-feira, 29 de abril de 2014

FELIPE / JOANA X PERFORMER / DESIREÉ

Hoje.
Levanto da cama com um sorriso bom.
Faz meu clima favorito lá fora: frio com sol.
Conferindo as oposições que combinam, como queijo com banana.
Sorrindo.
Estou, cada vez mais, alcançando minha própria autonomia e, hoje, encontrarei outra colega de performance que há tempos não vejo.
Desireé.
Nos conhecemos na época da faculdade do Felipe, por volta da data de minha criação.
Ela, de certa forma, sempre foi minha maior parceira de trocas diversas.
Espero que isto não magoe o Abramo, o João ou a Mari, mas Desireé, assim como eu, possui uma criadora que é grande amiga do Felipe.

JOANA E FELIPE

Somos, assim, uma espécie de espelho artístico para a existência puramente humana e cutucadora de criatividades.
Como se fôssemos o lado direito do cérebro deles aonde as suas correntes de liberdade escoassem.
Faz tempo.
Mais uma sensação corporificadora aqui.
Saudades.
Aniquilo ela hoje.
Pensando que vocês, artistas ou não, projetam, calculam, procuram ter, ao menos, uma mínima previsão de seus futuros atos, falas,ações, atitudes.
Este pode ser um dos principais pontos de distancia e diferencial entre mim e Desireé.

PERFORMER E ABRAMO

DESIREÉ


Sempre que nos encontramos, uma primavera de acontecimentos improváveis e deliciosos, espontaneamente, surgem.
Não temos planos e não queremos ter.
Recebemos o que o mundo nos joga... E performamos.
Verei se compartilho alguns registros de nosso último encontro, no ano passado e, mais à frente, veremos o que o dia irá nos fornecer de ferramentas para brincar hoje.








domingo, 27 de abril de 2014

LIÇÕES PARA PESSOAS E COISAS

Sozinho.
Tenho notado que esta palavra tem um enorme porcentual e potencial de carregar um significado negativo.
Nunca a percebi desta forma.
Creio que deve ser mimo.
Sempre afirmo que trabalho e existo sozinho, mas o Felipe, de certa forma, sempre me acompanha, meus colegas, - o Abramo, principalmente - meus artefatos como meu uniforme, curativos, coturno de confiança, proteções corporais.
Proteções.

Mais uma coisa que aprendi por aqui com vocês.
O Felipe sempre colocou alguns apetrechos para deixar o meu corpo seguro e, algumas vezes, ele se esqueceu desta ação.
Foi quando conheci a dor física.
Neste redemoinho envolvendo a vivência nesta realidade social em que me encontro, e sempre, como já citei, me cerificando que cada vez mais me pareço com gente, caminho sempre em novos conhecimentos.
Creio estar descobrindo uma outra dor.
Não é no corpo em si, no seu lado visualmente perceptível.
Não é epiderme.
É dentro.
Tentei inscrever a carta do Felipe em uma feira-edital de publicações.
O fiz não somente como um presente e surpresa para meu criador mas, também, por querer brincar de inverter nossos papéis.
Eu que o inscrevi, desta vez, e ele que iria se expor no fim das contas.
Não eu.
Recebi a notícia de que a carta dele foi selecionada e, então, senti um calor bom no peito (lá dentro, como eu disse)... E sorri.
Me deu vontade de rir com alguém.
Sozinho.
Resolvi abraçar o Abramo já que ele, sei lá porque, está sempre sorrindo.
Ontem me disfarcei de Felipe e fui na exposição.
Estranho ir como visitante.
Temos que cumprimentar muitas pessoas!
Para minha surpresa, o trabalho do Felipe parece ter sido o único (ou um dos únicos, para mim não faz a menor diferença) que não estava exposto.
De novo uma sensação nova, no mesmo lugar em que se encontrava um calor + sorriso.
Lá dentro.
Esta foi fria, meu sorriso sumiu e ainda notei uma queimação esquisita, também por dentro só que mais embaixo, perto do estômago e hoje, novamente dentro, minha cabeça dói.
Solitário.
Esta sim parece ser uma palavra que define melhor o que apontei no início deste desabafo.
Lembrei da última frase do Felipe, dedicando suas verdades para aqueles que não desistiram dele.
Parece que desistiram ontem.
O esqueceram.
Espero que ele não se chateie com isso.
Eu queria fazer um presente.
Não foi culpa minha... Mas falhei.
Comigo o Felipe nunca falha.
Droga.
Revisito um momento com o Abramo logo antes de minha viagem.
Hoje, parece que só há nós dois aqui.
LIÇÕES PARA PESSOAS E COISAS.
LIÇÕES PARA PESSOAS E COISAS